MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE COZ
Nota Histórico-Artística
Imóvel
A atual igreja do Mosteiro de Santa Maria de Coz, no concelho de Alcobaça, é o único espaço preservado do antigo cenóbio. Volta-se para o terreiro formado pelo corpo da nave e pela ala dos dormitórios, tendo adossado, a norte, o corpo da sacristia e salas anexas, sendo a ala perpendicular dos dormitórios, a sul, antecedida por portaria e torre sineira. As restantes estruturas do complexo distribuir-se-iam em redor, ocupando áreas hoje correspondentes a eixos viários, logradouros e imóveis particulares, entre os quais se inclui o celeiro monástico, que funcionaria num edifício vizinho.
O exterior do templo, muito austero, com abside contrafortada nos cunhais, revela um corpo longitudinal alongado pelo coro das monjas. O portal é de verga reta, enquadrado por arquitrave sobre pilastras, e encimado por frontão triangular interrompido com brasão real emoldurado por cartela de volutas, e a data de 1671 inscrita no lintel.
A severidade das fachadas contrasta com a decoração barroca do interior, distribuída pela nave única que se articula com a capela-mor, mais elevada, e com o coro. A nave, coberta por teto em falsa abóbada de berço com caixotões de madeira pintados, é separada visualmente do coro por um grande arco totalmente preenchido por grade, e encimado por passadiço com balaustrada alta. Os muros são animados por silhares de azulejo de padrão azuis e brancos, enquadrando retábulos maneiristas e barrocos de talha dourada. A capela-mor é constituída por tramo único pouco profundo, mais estreito que a nave, inteiramente revestido por lambril e painéis de talha dourada emoldurando telas, revestimento que culmina no retábulo-mor, cuja tribuna exibe um conjunto escultórico representando a Sagrada Família durante a Fuga para o Egipto, sendo o trono ornado por imagem da Virgem.
Do lado oposto, o coro está revestido por azulejos de padrão azuis e brancos, aos quais se encosta o magnífico cadeiral. A eixo com o altar-mor encontra-se um portal quinhentista de cantaria, em arco polilobado, ornado com grutescos, motivos vegetalistas e heráldica, abrindo-se, a sul, uma porta para as dependências conventuais, e, a norte, o acesso à sacristia, cujas paredes se encontram revestidas por painéis de azulejos figurando episódios da vida de São Bernardo, existindo ainda vestígios de pinturas murais.
Das dependências conventuais resta o primeiro troço do corpo arruinado de um dormitório, cujas celas se distribuem ao longo de um corredor abobadado em berço.
História
Datará da primeira metade do século XIII a fundação deste mosteiro, destinado, segundo relatos da época, a receber algumas viúvas devotas que asseguravam o funcionamento da poderosa abadia de Alcobaça. Embora a instituição detivesse grande importância na povoação que se desenvolvia à sua sombra, o número de monjas e professas manteve-se modesto até ao século XVI. O ponto de viragem na vida da comunidade deu-se c. 1530, quando o mosteiro foi reconhecido pela Ordem de Cister, e elevado a abadia regular. As edificações medievais já haviam sofrido pelo menos uma grande intervenção, datada de 1519-27, e talvez conduzida por João de Castilho, da qual o vestígio mais notável é o portal manuelino recolocado no extremo nascente do coro da igreja. A estas obras, concluídas numa campanha terminada em 1562, seguiu-se a grande empreitada da segunda metade do século XVII, da qual resultaram a imponente igreja atual, erguida entre 1669 e 1671, e a moderna feição do claustro e dos dormitórios. Nos anos seguintes, até c. 1716, concluiu-se a campanha decorativa barroca que dotou a igreja e seus anexos de altares de talha dourada, revestimentos azulejares e pintura.
O período áureo da comunidade religiosa terminou com a destruição causada pelo Terramoto de 1755, que desalojou as monjas, e com a extinção das Ordens religiosas, em 1834, à qual se seguiram o saque generalizado e a ocupação desordenada dos espaços monásticos.
Sílvia Leite
DGPC